CAMPO & CIDADE
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- Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras
VERDES HORTAS - FLORIDOS JARDINS - Onévio Zabot
Verdes hortas, floridos jardins e pródigos pomares, não há como dissocia-los...?! O planeta terra, nesse aspecto, não deixa de ser um grandioso jardim. Um capricho da natureza. A palavra jardim provém do hebraico, gam: proteger, defender; e éden: prazer, delícia. Ambiente de acolhimento, de paz. José de Alencar no romance Iracema sobre a natureza indômita, especialmente sobre mar que não deixa de ser o jardim das águas, assim se expressou:
- "Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios de sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas dos coqueiros. Serenai verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas". Emoções à parte - como diz o cantor Roberto Carlos -, natureza é luz, é estrela-guia. Quanto mais nos apaixonamos por ela, mais nos apegamos à simplicidade, essência da sabedoria.
Hortas e jardins, ambientes acolhedores. Colher alface, colher almeirão, gesto de gratidão ao verde que se levanta e viceja no quintal. Colher temperos verdes, ó imensa alegria! Manjericão, orégano, cebolinha, tomilho, açafrão, sálvia. E o boldo, então! E as frutas, cesta de cores e sabores. Dia desses, em visita a cidade de São Bernardo do Campo, um distinto senhor que atuava como fiscal de obras ao saber que erámos de Joinville, não se contém: ergue os braços... Exclama... - Que belos jardins por lá!
- Discorria eufórico sobre o que viu em visita na cidade dos príncipes:
- "Em cada residência um quintal, em cada quintal uma horta, um arvoredo. Um jardim". Que doce contraste...! Por aqui, em São Bernardo, só concreto. Paredões.
- Por gentileza, insinua:
- Não deixem de preservar o verde, de manter os quintais, os espaços ajardinados.
Cai a ficha, vem-me à mente, o gesto das bondosas pessoas que amanham a terra, deliciando-se com a plantas ao trata-las com esmero e carinho. E, aí, via de regra, sobressai a figura da mulher, símbolo de comunhão com a natureza. É comum, de manhã ou nos finais de tarde, vê-las debruçadas nos quintais cuidando das plantas: limpeza, poda e plantio. Adubação. Quando preciso regam. Hosana, sentimento de mãe em escala verde!
O presidente Afonso Pena em visita a Joinville para inaugurar a Estação Ferroviária, idos de 1906, ao circular pelas ruas, diante dos ambientes ajardinados, não se contendo, exclama: - "Joinville - o jardim do Brasil". Repercute o gesto, repercute na imprensa do Rio de Janeiro. A cidade dos príncipes não nega suas raízes, transforma-se na cidade das flores. E por que não, cidade das hortas.
Poucos percebem isso, mas é uma realidade. Hortas abundam em Joinville. Domésticas ou comunitárias. E pomares, então, e áreas verdes por todo o lado. Quando se fala em arborização urbana, nunca devemos esquecer: mais importante do que exemplares nas calçadas são aqueles presentes nos quintais. E fruteiras não faltam nos quintais de Joinville. Ali o palmito juçara e a palmeira real e as violeteiras oferecem frutos à fauna silvestre. Sabores de boa terra. E há as floradas das russélias, capotes vermelhos, araçás e de tantas outras espécies para o fausto das cambacicas e beija-flores.
Jardinagem - uma arte e uma técnica -, mas antes de tudo um gesto de amor à natureza. Pequenos espaços por mais ínfimos que sejam comportam uma pequena horta, um jardim. Um pomar. Há quem afirme que com 10 metros quadrados de área cultivada é possível sustentar uma família com verduras e condimentos. Perfeitamente possível, se acrescentarmos captação de água da chuva e compostagem, reciclagem das sobras domésticas. Há tempos que a Associação do Engenheiros Agrônomo da Babitonga debate o tema e incentiva a implantação de hortas domésticas e comunitárias. Terenos privados e públicos não faltam. E a horta no Costa e Silva sob o linhão da Celesc, prova que isso é possível. Belo exemplo de inciativa comunitária. Hortas e jardins vitalizam pequenos espaços por mais exíguos que sejam. Hortas e jardins tornam-se ambientes aprazíveis e gratificantes. As borboletas também agradecem.
Joinville, outubro de 2020
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